üUm
homem trabalhador que tira vantagens enquanto trabalha!
üUm
cidadão que se preocupa consigo e com seu próprio patrimônio!
üUm
individuo que dominava as pessoas e as usavam em seu próprio beneficio!
üUm
ser humano com posses, com trabalho, com propriedades e patrimônios! Prospero
mas com sentimentos de um existencialismo vazio e anelando algo que as suas
posses não conseguiam comprar!
üUm
senhor rico de tudo e manipulador de pessoas, mas cativo de suas próprias
riquezas e de uma consciência minada pelas lembranças de pessoas que sofriam
por sua causa!
üUma
pessoa confusa, sem norte e sem sul, e completamente dependente do oportunismo
de um ganho fácil e rápido para se manter socialmente numa posição de destaque!
Uma vida pseudo-social e pseudo-estabilizada!
üUm
contador e um catalisador de riquezas e valores! Especialista em finanças e
totalmente ignorante em se tratando de riquezas e valores humanos!
üEste
homem antes do reino é como qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo e de qualquer
cultura! Ele expressa e explicita o que todos são e fazem! São pessoas que
dominam pessoas e sujeitam-nas às suas
ambições, seguindo assim, às vãs filosofias que ensinam: Alguns nascem para
dominar e outros nascem para serem dominados!
üZaqueu
antes do reino se parece com pessoas que estão dentro e fora da Igreja e da
religiosidade. Acha-se deste estereótipo zaqueano em casas, clãs, tribos,
etnias, nações, governos, impérios, partidos políticos, religiões, empresas,
ricos e pobres.
üSem
o reino de Deus os “zaqueus” se propagam e se configuram dia a dia em toda e
qualquer pessoa, e isso, de um modo confortável e do tamanho exato de cada
pessoa! Lembrando que há produtos inflamáveis espiritualmente (pecados) e
socialmente (injustiças sociais e desigualdades integrais) que alimentam com
muito mais força estes zaqueus que estão presentes como labaredas em tantas
pessoas! O fogo se alastra!
üGente
sem a Basiléia (reino) de Deus é gente vulnerável! Vulnerável porque pensam que
são donas de alguma riqueza! Sentem-se detentoras de algum poder sobre outras
pessoas, um destes poderes que mais corrompem as pessoas, acima do poder
financeiro, é o poder do SABER – CONHECIMENTO. Quando alguém sabe se utilizar
deste poder ele se torna rico e prospero em todas as áreas! Muitos se estribam
neste poder para dominar e sujeitar o próximo!
üZaqueu
fora do reino fica fora também da sanidade e da lucidez social, espiritual,
econômica, religiosa e humana!
üZaqueu
sem reino é Zaqueu sem causa!
üPovo
sem reino de Deus é povo que excede no ganhar, no extorquir, no acumular, no
ultrapassar os limites de tudo aquilo que é humano (porque Deus criou o ser
humano). O ser desumano é criação do próprio homem na sua queda em associação
com o Diabo e as suas hostes espirituais do mal. Sem o reino de Deus o ser
desumano desumaniza-se cada vez mais! E a figura do Zaqueu sem Reino mostra
esta desumanização de uma forma muito clara!
Zaqueu, depois do reino
de Deus:
`Volta
à condição humana! Volta ao plano original de Genesis 1,2 e 3! Volta a ser regente
do reino de Deus entendendo a sua missão de governar, sujeitar, guardar,
cultivar e dominar sobre tudo o que foi criado por Deus! Aprende que esta
regência não inclui o seu semelhante, compreende que o ser humano é regente
como ele, portanto, ser humano não domina e nem sujeita ser humano!
`Transforma
sua cidadania desumana em cidadania humana!
`Interage
socialmente como sendo um individuo que precisa do ALTER (outro social) para
fazer com que a sociedade entenda o “contrato social” que todos legitimaram não
como um contrato de poder e força política com deveres e direitos, mas, como um
contrato onde o maior é aquele que serve e mais bem aventurado é dar do que
receber!
`A
vida dentro do reino que Zaqueu experimenta é aquela que faz com que O OUTRO
(Jesus) entre na sua casa e dite os valores do reino e as suas prioridades! E o
desumano Zaqueu se deixa ser humano e sai da sua casa amando gente e servindo
gente!
`Zaqueu
depois do Reino é alguém que se deixou mudar por um nazareno e Galileu que não
tinha nem ouro e nem prata! Deixou-se levar por alguém que era pobre e não
podia ser extorquido por Zaqueu porque ele (Jesus) não tinha aonde repousar sua
cabeça!
`A
Basiléia (reino) dentro de Zaqueu e Zaqueu dentro da Basiléia se fundem no ser
humano de tal forma que a partir de agora, este Zaqueu, se torna e se entende
como nova criatura, novo ser, novo humano, e este, entende gente, ama gente,
cuida de gente, serve gente, edifica gente, se dá por gente, não sujeita os
outros a si, mas se sujeita aos outros!
`Este
homem depois do reino poderia ter devolvido apenas aquilo que tirou ilegalmente
das pessoas. Mas, o efeito do reino em sua vida é tão intenso e profundo, que
ele decide devolver mais do que era necessário, ele excede!
`Zaqueu
não pensou na estabilidade de si e da sua casa, antes disso, para ele é mais
prazeroso e louvável ser instrumento de Deus para edificar a casa do outro!
`Tem
o caráter diametralmente oposto aos valores morais do reino deste mundo! É
gente que contradiz o mundo! É crente
que contradiz a crendice! É cristão que contradiz a cristandade!
`Passa
a romper com a rede “normal” das forças e poderes que estragam a humanidade e a
espiritualidade sobre a terra! Zaqueu rompe com o sistema! Zaqueu estanca a
hemorragia da corrupção que insistia em vazar e enfraquecer lares e famílias
inteiras! Zaqueu comprovou e legitimou o ensino de Jesus Cristo quando disse
que ninguém pode servir a dois senhores, portanto, Zaqueu se aborreceu do reino
deste mundo e decidiu ser levado para o reino do filho do amor de Deus!
`O
Zaqueu do reino de Deus entendeu que na economia deste reino o dinheiro não
pode dominar ninguém! No reino de Deus a regência sobre o dinheiro não é
obte-lo das pessoas, ao contrario disso, é entregá-lo em amor e liberalidade
aos outros! Simplesmente pratica o ensino do reino dado por Jesus que disse:
Quando emprestar dinheiro não empresta a quem você sabe que pode te restituir e
te devolver! Que mérito teria em você fazer isso e desta forma? Faça o
seguinte: Empreste a quem você sabe que não tem condições alguma de pagá-lo e
devolver! Pois quem está no reino entende que todo o dinheiro que possui não
pertence a si, é simplesmente um dinheiro que pertence ao Rei e por isso se Ele
disse que é para emprestar a quem não pode devolver então Ele é o único responsável
pelo dinheiro. O regente no reino simplesmente obedece!
`No
reino de Deus Zaqueu tem causa! A causa não é voltada pra si e não tem o “eu”
em primeiro lugar e não existe o pronome possessivo “meu”! Quem tem causa no
reino de Deus entende que os pronomes de qualquer causa de um regente do reino
são: “tu e teu”! A causa é para o outro!
`O
Zaqueu antes do Reino se achava rei! O Zaqueu depois do reino se vê como
regente do Rei! Como rei ele errou tudo, mas como regente ele acerta e
glorifica a Deus!
Queridos irmãos e irmãs em Cristo, tenho aprendido algo
nestes últimos dias que me conforta o coração!
Tenho oxigenado minha vida com o fato de que há pessoas
maravilhosas que Deus coloca em nossas vidas para nos afinar, aprimorar,
moldar, quebrantar, amadurecer e fazer-nos abundantes em frutos! Tem pessoas
que são colocadas em nossas vidas por alguns pequenos momentos e por algumas
variadas circunstancias, mas, logo nos distanciamos delas! Existem outras que
na realidade nunca estiveram verdadeiramente conosco, estavam próximas e até
fomos abençoados por elas, mas descobrimos depois que elas não estavam com a
gente, elas estavam com algo em que a gente estava envolvido. No instante em
que deixamos aquilo que estávamos envolvidos e era o nosso ponto comum, elas
nos deixaram. Preferiram ficar com aquilo que nos eram comuns do que ficarem
conosco! Aprendemos com todos e precisamos apreciar a todos!
As pessoas são bênçãos de Deus para nossas vidas!
Tenho aprendido que não importa quem está conosco, quem
não está conosco, quem nos abençoa ou quem retém a benção ou desvia a benção de
nossas vidas, não importa a relação que temos com toda e qualquer pessoa, o que
realmente interessa é que todas elas são trazidas por Deus às nossas vidas para
transformarmos tudo o que pode acontecer entre nós em glória a Deus e em bem
estar e edificação para nossas vidas!
Aproveito para dizer a você que recebeu esta carta que
você é um maravilhoso recurso didático de Deus para minha vida! Digo isso a
todos os que me amam, a todos que me odeiam, a todos que me abençoaram e a
todos que impediram as bênçãos que Deus colocou em suas mãos para que chegassem
a mim, aos meus filhos, à minha casa, ao Pronasce e ao nosso ministério!
A historia de Zaqueu antes e depois do reino tem falado
ao meu coração, pois vejo que podemos aprender com os dois Zaqueus! Todos nós
temos uma identificação de berço e de historia com o primeiro Zaqueu!(O Salmo
51 confirma isso). Mas, graças a Deus, as pessoas mudam, Deus gera novas
criaturas, e podemos melhorar, podemos interagir com pessoas maravilhosas,
sendo, por meio delas, aperfeiçoados até chegarmos à estatura do varão perfeito
que é Cristo Jesus, pois Ele, lidou o tempo todo com pessoas maravilhosas! Pessoas que o
amaram e o traíram!
Eu oro: SENHOR ME FAÇA VER EM TODOS OS HOMENS E EM TODAS
AS PESSOAS DA TERRA A MARAVILHA QUE ELAS SÃO DIANTE DO TEU REINO! SENHOR TIRA
DE MIM OS OLHOS QUE NÃO CONSEGUEM VER MARAVILHAS NAS VIDAS DOS OUTROS, NÃO
IMPORTA O QUE ELES SÃO E NEM O QUE ELES FAÇAM OU DEIXEM DE FAZER! SENHOR
OBRIGADO POR ME DAR O PRIVILEGIO DE CONVIVER COM GENTE! OBRIGADO POR ME USAR
PARA SER EU A MARAVILHA DE TANTAS OUTRAS PESSOAS! ERRANDO OU ACERTANDO NA
CONCEPÇAO DELAS EM RELAÇAO A MIM, EU TE LOUVO! PORQUE QUANDO EU ERRO NA
CONCEPÇAO DELAS ESTES MEUS ERROS SÃO ENSINOS PARA SUAS VIDAS! ASSIM COMO SÃO OS
ERROS DELAS NA MINHA CONCEPÇAO PARA A MINHA PESSOA! EM NOME DE JESUS, O
MARAVILHOSO POR EXCELENCIA! AMEM!
Deus abençoe a todos os maravilhosos Zaqueus! Sem nos
importarmos se estão dentro ou fora do reino!
Um osculo santo de alguém que se oxigena com gente!
Nestes dias tenho pensado sobre os essenciais do cristianismo. Estou convicto que os periféricos da vida e ministério podem facilmente nos desviar de praticarmos um cristianismo bíblico e simples, fazendo com que nossa atenção, energias, dons e relacionamentos se desgastem nas notas de rodapé de uma religiosidade quase vazia. Há diversos essenciais na vida cristã. Um deles é o amor.
Preocupo-me quando apregoamos uma verdadeira espiritualidade, mas não amamos. Preocupo-me quando a Igreja não consegue chorar com os que choram ou quando nossos relacionamentos vão se tornando cada vez menos sinceros e mais utilitários. Preocupo-me quando o mundo trata o caído com mais graça e misericórdia do que o povo de Deus. Preocupo-me quando a Igreja passa a definir sua experiência de fé a partir de seus ajuntamentos solenes e não dos seus relacionamentos diários. Preocupo-me quando não amamos.
Ao escrever a Primeira Carta aos Coríntios, Paulo reserva os capítulos 12 e 14 para expor sobre os dons espirituais, pois é um assunto de relevância e necessidade. Entre os dois capítulos sobre dons espirituais Paulo enxerta um dos textos mais definidores da nossa fé -- o capítulo 13 --, que nos apresenta a centralidade do amor na vivência cristã. Ele nos mostra a possibilidade de sermos uma Igreja com aparência, forma e discurso espiritual, mas de fato carnal; com a presença de dons espirituais, mas sem o essencial do cristianismo. A mensagem nesse capítulo é clara: o amor é superior aos dons.
Sempre leio com temor os três primeiros versículos deste capítulo, pois confrontam minha vida ao afirmar que, mesmo que tivermos dons espirituais, tamanha fé ou praticarmos toda sorte de ações sociais, sem amor nada haverá que, no fim, possa ser aproveitado. Nem sermões bem preparados ou liturgias cúlticas. Nem ações missionárias ou grandes projetos sociais para ajudar o necessitado. O amor, aqui exposto, não é apenas superior aos dons, mas também um marcador de nossa identidade cristã. Somos dele quando buscamos amar.
Isto significa que minha vida em Cristo não pode ser definida puramente pelos dogmas que entendo e aceito nem pelas experiências de espiritualidade que vivencio. Sem amor serão vazios de significado. Minha vida em Cristo é definida pela presença do amor que não apenas é essencial, mas também automanifesto. Para nosso temor e tremor, o Espírito descreve neste capítulo que o amor é perceptível, ou seja, ele deixa marcas. O amor é prático, notável e visível. Ele é “paciente”, esperando pela hora oportuna para o outro. É “benigno”, fazendo com que a dor do vizinho seja também a nossa. Não “arde em ciúmes”, portanto evita comparações e se nega a criticar o próximo. Torna-se, assim, impossível amar sem que as marcas do amor sejam vistas pelos que passam pela mesma estrada que nós.
Precisamos amar o próximo o mínimo para não criticá-lo. Este próximo, o “outro”, diferente de nós, é nossa base de testes, o cenário onde devemos aprender a praticar o ato mais sublime que vem do Pai, e somente dele.
Tenho percebido que o amor prova a espiritualidade. Somos naturalmente seres construtores de máscaras, que tendem a esconder aquilo que é carnal e vergonhoso. Assim, usando máscaras bem elaboradas, podemos falar sobre fé sem de fato crer; pregar contra o pecado sem intimamente repudiá-lo; expor sobre o amor e na manhã seguinte prejudicar o irmão. Um mecanismo que claramente prova nossa espiritualidade são os atos de amor.
O oposto do amor também é evidente. Gera tolerância com nossas próprias limitações e fraquezas, e intolerância com o próximo. Dessa forma, se alguém conversa com formalidade, é antipático; se nós o fazemos, somos respeitosos. Se alguém brada ao pregar, está sendo artificial; se nós bradamos, é sinal de espiritualidade. Se alguém não faz, é preguiçoso; se nós não fazemos, somos ocupados. Se alguém contrai uma dívida, é irresponsável; se nós nos endividamos, é porque recebemos pouco. Se alguém discorda, é soberbo; se nós discordamos, somos criteriosos. Se alguém critica, o faz por estar tomado de inveja ou ciúmes; se nós criticamos, estamos sendo zelosos. Se alguém repete um sermão, está sendo desleixado; se nós o fazemos, Deus quer falar novamente ao seu povo. Se alguém erra, era de se esperar; se nós erramos, errar é humano. Se alguém cai, suas atitudes carnais já indicavam isto; se nós caímos, o inimigo preparou-nos uma armadilha. Se alguém brinca, está sendo mundano; se nós brincamos, somos informais. Se alguém ofende no falar, é descontrolado; se nós o fazemos, somos sinceros. Sim, a ausência de amor falsifica a vida cristã e um dos sinais é a grave intolerância com o próximo e a permissividade conosco.
Em 1 Coríntios 13, do versículo 9 em diante, vemos que o amor é um aprendizado. Eu era menino e agora sou homem; via de forma obscura, agora vejo claramente. Ou seja, amar é um processo, uma caminhada. Não nascemos amando.
Para amarmos devemos pedir que Deus nos ajude. No Salmo 119 o salmista afirma que andará nos caminhos do Senhor quando ele “dilatar” o seu coração. Precisamos de corações dilatados, abertos, prontos para amar. Peçamos ao Pai, pensando nos cenários diários de nossas vidas: “Ensina-me a amar”. Para investirmos na jornada do amor é preciso nos desapegar daquilo que é incompatível com o amor. John Edwards, em seu livro “Afeto Religioso”, fala sobre a incompatibilidade do amor com as palavras de agressão. Devemos nos desapegar daquilo que pretere e cerceia o amor em nossa vida. Jamais amaremos enquanto nossa agenda diária estiver repleta de competitividade, ciúme, falso zelo, comparações desnecessárias, soberba e agressão.
O amor também nos conduz à missão. Certamente, somos todos capazes de apregoar os fundamentos da missão e expor com clareza o conceito de sua integralidade. Porém, sem amar, continuaremos passando ao largo do caído ao longo do caminho, que sofre, e virando o rosto aos que ainda não ouviram de Jesus. Assim, seremos cristãos de gabinete escrevendo sobre o que não experimentamos, ou cristãos pragmáticos fazendo o que é certo pelos motivos errados, sem amor.
Lutero, citado por Mahaney em seu livro “Glory do Glory”, afirma: “Esta vida, portanto, não é justiça, mas crescimento em justiça. Não é saúde, mas cura. Não é ser, mas se tornar. Não é descansar, mas exercitar. Ainda não somos o que seremos, mas estamos crescendo nesta direção. O processo ainda não está terminado, mas vai prosseguindo. Não é o final, mas é a estrada. Todas as coisas ainda não brilham em glória, mas todas as coisas vão sendo purificadas”.
Após pregar sobre os essenciais da nossa fé na Igreja Konkomba de Gana em 1999, um dos crentes me procurou após o culto perguntando: “Por onde devo começar?” Fui para casa pensando nesta pergunta. No dia seguinte o encontrei embaixo de uma árvore rodeado por amigos em alegre conversa. Sentei-me ao seu lado e sussurrei-lhe ao ouvido: “Comece procurando aquele com o qual você foi intolerante e não amou como Cristo”. Pensativo, ele se levantou e saiu caminhando a passos curtos e lentos. Santa caminhada. Nada fácil, mas alegra o coração daquele que é amor.
• Ronaldo Lidório, doutor em antropologia, é missionário da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais e da Missão AMEM. É organizador de A Questão Indígena -- Uma Luta Desigual.
Da
Religiosidade Morta ao Novo nascimento em Cristo
por: Leonardo Felipe
Em
algum momento da vida ficamos ou ficaremos, diante do Senhor!
Em
algum dia ficamos ou ficaremos, frente a frente com o Senhor!
Em
algum instante de nossa vida fomos levados ou procuramos a presença do Senhor!
Em
algum lugar no passado ou no futuro nos encontraremos com o Senhor!
Esse
momento, esse encontro, esse instante foi ou será decisivo, marcante e
transformador em nossas vidas! Ou não!
Esse
momento foi ou será um período curto ou longo onde nossas vidas são repassadas,
revistas e avaliadas.
É
nesse encontro que se inicia um processo de Transformação, Restauração e
Regeneração.
A
Bíblia toda apresenta vários momentos como esse e em especial os evangelhos
(Exemplos: A Mulher Samaritana de João 4; O Endemoninhado de Marcos 5; O
Publicano Zaque de Lucas 19; O Jovem Rico de Mateus 19). E todos esses casos
estiveram diante do Senhor! Todos tomaram uma decisão. Seguir o Senhor? Ou
Seguir suas vidas como queriam ou como o mundo oferecia?
Hoje
vamos refletir sobre um desses encontros. O encontro de um Importante e
reconhecido Religioso. Uma autoridade, um Fariseu renomado ficou Diante do
Senhor. Seu nome era Nicodemos
Os
Fariseus
Havia
uma grande expectativa dos Judeus para o surgimento de um Messias que uniria a
nação, formaria um exercito e libertaria Israel do Império romano. Os Judeus
esperavam um Messias como Davi, um Governante e um Rei. Nesse contexto de
exploração surge um grupo religioso em Israel entre os judeus, os Fariseus. Esse
grupo acreditava e vivia com a convicção que poderiam e deveriam salvar a si
mesmos ou alcançar o favor de Deus e suas bênçãos quando obedecessem
perfeitamente à lei de Moisés e a série de regulamentos estabelecidos pelos
homens. E Nicodemos pertencia a esse partido da salvação pelas obras.
Quando
Jesus encontra Nicodemos ele estava provavelmente no primeiro ano dos três anos
de seu ministério. Estava em Jerusalém para celebrar a festa da Páscoa. A fama
e os boatos de Jesus já havia se espalhado pela sociedade judaica.
O Encontro “À Noite” (V.1-2)
Dizem
que Nicodemos foi até Jesus nesse horário por ser um hipócrita e tinha más
intenções, como outros Fariseus demonstraram ao longo do ministério de Jesus. Alguns
afirmam que Nicodemos foi se encontrar com Jesus nesse horário para não ser
visto. Outros dizem que Nicodemos
procurou Jesus nesse horário para encontrá-lo sozinho e assim ter mais
tranquilidade no que queria conversar. Se
olharmos com calma a narrativa completa de João (Ex.: Jo.7:50-51) veremos um
Homem com um coração aberto. Um homem de coração sedento por um encontro com
Deus.
O Diálogo (V.3-11)
A
partir desse momento se inicia um Diálogo entre Nicodemos e Jesus. Diante do
Senhor o Religioso inicia uma conversa. Nicodemos inicia a conversa com muita formalidade
e distância. Ele sozinho diante de Jesus fala: “Rabi, Sabemos que és
Mestre vindo da parte de Deus;...” primeiro ele esta sozinho, porque dizer
“Sabemos”, parece àquelas orações feitas em público para demonstrar espiritualidade.
Hendriksen
lembra que Nicodemos não faz nenhuma pergunta. No entanto, Jesus lhe responde,
pois Jesus conseguia ler a pergunta que se encontrava profundamente sepultada
no coração desse fariseu. V.3 “Em
verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o
reino de Deus.” Hendriksen salienta também que com base na resposta de
Cristo, podemos seguramente presumir que a pergunta escondida no coração de
Nicodemos era semelhante à que se encontra em Mateus 19:16 ("E eis que alguém, aproximando-se, lhe
perguntou: Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna?").
Durante
o diálogo Nicodemos faz repetidamente a mesma pergunta: Como pode... nascer de
novo? Pode nascer segunda vez? Como pode suceder isto? E Jesus faz a mesma afirmação
mais duas vezes V.5 e V.7.
John
Stott explica afirma que Jesus deve ter impressionado Nicodemos ao dizer-lhe
que deveria nascer de novo. Mas, o que Jesus quis dizer? John Stott explica que
obviamente Jesus não estava se referindo a um segundo nascimento físico ou a um
ato de auto-reforma. Então como esse nascimento acontece? De determinado ponto de vista, esse
nascimento é inteiramente obra de Deus. Pois, ninguém jamais deu à luz a si
mesmo. Portanto, o novo nascimento é um nascimento “do alto”, um nascimento “do
Espírito Santo”. De nossa parte, no entanto, temos de nos arrepender e crer. Nicodemos
não poderia evitar o batismo de arrependimento de João. Foi isso, que Jesus
quis dizer com ser “nascido da água” (V.5). Nicodemos deveria então crer, colocando
sua confiança em Jesus, o Messias, que era o Salvador de que necessitava.
O Discurso (V.12-15)
Em
seguida Nicodemos faz um silêncio e Cristo inicia um discurso. Diante da
insistente dúvida de Nicodemos, Cristo passa a explicar o que estava diante dos
olhos do Fariseu. Cristo volta ao Antigo
Testamento no livro de Números capítulo 21 para explicar como alguém pode ser
salvo e como podemos permanecer no Reino de Deus. Durante a jornada de Israel,
do Monte Sinai até a planície de Moabe, o povo de Deus se rebelou novamente. O
povo falava contra Deus e Moisés, dizendo: “Por que nos fizeram subir do Egito,
para morrermos neste deserto, onde não há nem pão nem água?” Então Deus enviou
serpentes venenosas no meio do povo, matando muitos. Quando o povo confessou
seus pecados, Moisés orou por eles. “e Disse o Senhor a Moisés: Faça uma
serpente abrasadora, ponha-a sobre uma haste, e será que todo mordido que a
olhar viverá. Fez Moisés uma serpente de bronze e a pôs sobre uma haste; sendo
alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a serpente de bronze sarava”
(Nm.21:8-9).
Hendriksen
diz que as palavras de João 3:14: “Assim como Moisés... do mesmo modo deve o
Filho do homem” abre espaço para fazermos alguns pontos de comparação:
1.Em
ambos os casos (Números 21 e João3), a morte é apresentada como uma punição
pelo pecado.
2.Em
ambos os casos (Serpente de bronze levantada e Filho do homem levantado) é o
próprio Deus, em sua graça soberana, que provê (nos dá) o remédio.
3.Em
ambos os casos, este remédio consiste de algo (Serpente) ou alguém (Filho do
Homem) sendo levantado à vista do público.
4.Em
ambos os Casos, aqueles que, com um coração crente, olham para aquilo (ou
Aquele) que foi levantado são curados.
Nesse
discurso explicativo de Cristo o “Levantamento do Filho do Homem” (Ele mesmo) é
apresentado com o único remédio possível para o pecado, pois somente dessa
maneira as exigências da santidade e da justiça de Deus podem ser satisfeitas.
Essa
parte do discurso de Jesus termina com uma ressalva. Apesar de Cristo ser
levantado diante de todos, Ele não salva a todos. No verso 15 Lemos, “para
que todo o que Nele crê tenha a vida eterna.” Somente os que olharem
para Cristo com humildade, arrependimento e fé, obtêm a vida eterna.
Algumas
aplicações podem ser feitas a partir dessa passagem.
1ª Cristo recebe a todos com Amor
Cristo
recebe a todos que o procura:
-
Mesmo quando estamos com medo;
-
Mesmo quando o buscamos escondido das outras pessoas;
-
Mesmo quando estamos com vergonha;
-
Mesmo quando estamos fugindo;
-
Mesmo quando estamos desesperados;
-
Mesmo quando estamos perdidos.
Cristo
recebe a todos com Amor. Cristo fica diante de nós e nos traz (como disse
Pedro) “Palavras de vida eterna!” Cristo fica diante de nós e nos traz
refrigério para nossas almas feridas, cansadas e angustiadas. Cristo fica
diante de nós e nos mostra, acima de
tudo o caminho da salvação – que é Ele mesmo! Que é Crer e Confessar
que Ele é nosso único e suficiente salvador! Portanto, nossa primeira aplicação
é que precisamos sempre procurar o Rei dos Reis, o Cordeiro de Deus – Cristo
Jesus e ali onde estivermos Diante do Senhor ouvi-lo, obedecê-lo, segui-lo e
permanecer Nele.
2ª Só encontramos salvação, vida
eterna e reino de Deus em Cristo.
Só
encontramos Salvação, Vida Eterna e Reino de Deus quando nascemos de novo,
quando nascemos da água e do Espírito Santo, quando nascemos do Alto. Ou seja,
quando nos arrependemos e cremos em Jesus Cristo. Porém, precisamos ter cuidado
e atenção para não vivermos um Cristianismo Fariseu. Da mesma forma que fomos
alcançamos pela graça salvadora precisamos desenvolver essa nova vida na
dependência do Senhor. Na obra da Salvação dependemos do Senhor. Na obra da
Regeneração, Restauração e Santificação precisamos depender do Senhor. O
Apóstolo Paulo em Efésios 4:22-24 e 30 fala da nossa responsabilidade nesse
processo ("Quanto à antiga maneira
de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por
desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo
homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes
da verdade. Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram
selados para o dia da redenção." Ef.4:22-24 e 30). Depender do Senhor
através da ação do Espírito Santo nesse processo de santificação e regeneração
é algo crucial para conseguirmos êxito.
3ª Reavaliando e Recomeçando.
Assim
como é necessário nascer de novo para a Salvação, em alguns momentos da nossa
vida-caminhada precisaremos começar tudo de novo.
Recomeçar
sua vida com sua família em outro lugar. Recomeçar uma relação familiar
desfeita. Recomeçar uma atividade profissional. Recomeçar um ministério
afundado/enterrado. Em qualquer uma dessas situações e em outras devemos ir até
o Senhor e ouvir Dele o que é melhor, como agir, o que e quando fazer.
4ª Manter nosso foco – nossos olhos em
Cristo.
Paulo em
1Corintios 4:2 diz:"...o que se
requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel."
(1Co.4:2). A única forma de não cairmos nas tentações de Satanás, nas ofertas
do mundo e na maldade e carnalidade de nossos corações e mantendo nosso foco em
Cristo. Manter nossos olhos em Jesus Cristo. Não é uma prática religiosa que
pode nos salvar desse mundo, das tentações diabólicas, e da nossa iniqüidade. Mas,
é nossa dependência a Jesus e o sujeitar das nossas vidas a ação do Espírito
Santo que pode nos levar para a vida eterna.
Para
terminar quero contar uma história real:
Já
havia se passado das 3 horas da tarde! E três homens estavam mortos. Condenados
à morte, perderam a vida. Dois eram ladrões e o último um carpinteiro de
Nazaré, o Messias esperado - Cristo Jesus, foi perseguido, preso e condenado
por pregar o amor e a chegada do reino de Deus. Um Reino que não é físico e
humano.
Depois
de tudo isso, um discípulo de Jesus, José de Arimateia, pediu a autoridade
responsável (Pilatos) que liberasse o corpo de Jesus. Pilatos dá a permissão.
E
antes do anoitecer dois homens vão até aquele lugar, o monte caveira ou Gólgota
(Calvário). José de Arimateia estava acompanhado de Nicodemos. Ele mesmo,
Nicodemos que tinha ido conversar com Jesus de noite, aparece agora, em plena
luz do dia, carregando uma mistura de mirra e aloés, que pesava cerca de trinta
e cindo quilos. Eles pegaram o corpo de Jesus e, de acordo com a tradição
judaica de sepultamento, envolveram-no em linho com as especiarias. Havia um
Jardim perto do lugar onde ele havia sido crucificado, e no jardim, um sepulcro
novo, no qual ninguém havia sido ainda sepultado. Então, o colocaram no
sepulcro novo. Depois de três dias esse sepulcro ficaria vazio, pois a morte
não poderia segurar Cristo Jesus. E hoje Ele está vivo.
Nicodemos não era
mais um Fariseu renomado e importante. Ele havia nascido de novo. Nascido da
água e do Espírito, Nascido do Alto. Era um Filho e um Discípulo do Rei dos
Reis. Era um representante do Reino de Deus! (João 19:38-41)
Lendo a parábola do semeador e o Salmo 126 lembrei-me de muitos amigos e vários missionários. Veio forte a cena dos semeadores de hoje. Aqueles que falam de Jesus, visitam de casa em casa, servem o caído, cuidam do enfermo e enfrentam seus medos. Alguns andam a vida toda, aprendem línguas diferentes, estudam culturas distantes, escrevem projetos, sempre mais um lugar a chegar.
O Salmo 126 nos fala sobre a relação entre a caminhada e o choro. Quem sai andando e chorando enquanto semeia voltará para casa com alegria trazendo seus feixes, o fruto do trabalho. Para cumprirmos o ministério que Jesus nos confiou é necessário andar e chorar. E é certo que muitos fazem ambas as coisas. Tantas idas e vindas, caminhos incertos, a impressão de que há sempre mais um passo a dar, uma pessoa a evangelizar. E as lágrimas, que descem abundantes com a saudade que bate, a enfermidade que chega, o abraço que não chega, o fruto que não é visível, o coração que já amanhece apertado, o caminho que é longo demais.
Creio que temos andado e chorado. Mas voltaremos um dia, trazendo os frutos, apresentando ao Cordeiro e dando glória a Deus! Poderá ser amanhã, ou em algum momento ainda distante. Mas ainda não é hora de voltar. É hora de seguir, andando e chorando, com alegria no coração e sabendo que não trocaríamos esta viagem por nenhuma outra na vida. O grande consolo e motivação é que não andamos sós. Ele está conosco. E maior é Aquele que está em nós. Portanto não desistimos, olhando sempre para o horizonte a frente e trazendo à memória o que pode nos dar esperança.
Guarde seu coração enquanto anda e chora. Não perca a alegria de viver e caminhar, nem a mansidão, nem a oração, ou o humor, ou o amor.
Não deixe de semear mesmo quando está difícil. Lance a semente em todas as terras. Uma há de germinar e talvez a mais improvável. A que menos promete. Não dê ouvidos aquele que diz que não vai acontecer porque a terra é árida, o sol é forte e o vento está chegando. Lance a semente.
Abrace o que também anda e chora que está ao seu lado. Ele talvez se sinta só e pense que é o único que chora enquanto caminha.
Andar e chorar é cumprir a missão. Se você tem feito isto, louve a Deus por esta oportunidade. É um grande privilégio. Um dia você voltará...
Um menino muito estranho e encantado
Dizem que ele vagava muito longe, muito longe
Por terra e mar
Um pouco tímido e triste de olho
Mas muito sábio ele era
E, em seguida, no dia
Um dia mágico ele passou pelo meu caminho
E enquanto falávamos de muitas coisas
Tolos e reisIsso ele me disse
A maior coisa que você jamais vai aprender
É simplesmente amar e ser amado em troca ...