Crônica do Semeador
por Ronaldo Lidório
por Ronaldo Lidório
Lendo a parábola do semeador
e o Salmo 126, lembrei-me de muitos amigos e vários missionários. Veio forte a
cena dos semeadores de hoje. Aqueles que falam de Jesus visitam de casa em
casa, servem o caído, cuidam do enfermo e enfrentam seus medos.
Alguns lutam a vida inteira contra problemas maiores que eles. É a seca do sertão que causa fome, miséria e exclusão social, do corpo e da mente. As famílias carentes e outras sem teto que parecem se multiplicar a cada dia nas grandes cidades. A enfermidade e epidemias que assolam, sem piedade, justamente os lugares com menos assistência de saúde.
Alguns lutam a vida inteira contra problemas maiores que eles. É a seca do sertão que causa fome, miséria e exclusão social, do corpo e da mente. As famílias carentes e outras sem teto que parecem se multiplicar a cada dia nas grandes cidades. A enfermidade e epidemias que assolam, sem piedade, justamente os lugares com menos assistência de saúde.
Alguns trabalham longe,
aprendendo línguas complexas, estudando a cultura de um povo diferente, com
clima diferente, sempre mais um lugar a chegar e uma nova barreira a ultrapassar.
Outros trabalham perto, lutam nas selvas de pedra. Seu povo não-alcançado
encontra-se em condomínios fechados, no frenesi das ruas, hospitais lotados,
escolas e cárceres. Falam de Jesus e saem de casa orando por oportunidades
diárias - e não as perde.
O Salmo 126 nos fala sobre a
relação entre a caminhada e o choro. Quem sai andando e chorando enquanto
semeia voltará para casa com alegria trazendo seus feixes, o fruto do trabalho.
Para cumprirmos o ministério que Jesus nos confiou é necessário andar e chorar.
E são certo que muitos fazem ambas as coisas. Tantas idas e vindas, caminhos
incertos, a impressão de que há sempre mais um passo a dar, alguém a ajudar,
uma pessoa a evangelizar. E as lágrimas, que descem abundantes com a saudade
que bate a enfermidade que chega o abraço que não chega o fruto que não é visível,
o coração que já amanhece apertado, o caminho que é longo demais.
Creio que temos andado e
chorado. Mas voltaremos um dia, trazendo os frutos, apresentando ao Cordeiro e
dando glória a Deus! Poderá ser amanhã, ou em algum momento ainda distante. Mas
ainda não é hora de voltar. É hora de seguir, andando e chorando, com alegria
no coração e sabendo que não trocaríamos essa viagem por nenhuma outra na vida.
O grande consolo e motivação é que não andamos sós. Ele está conosco. E maior é
Aquele que está em nós. Portanto, não desistimos, olhando o horizonte que se
aproxima e trazendo à memória o que pode nos dar esperança.
Guarde seu coração enquanto anda e chora. Não perca a alegria de viver e caminhar, nem a mansidão, nem a oração, ou o humor, ou o amor. Não deixe de semear mesmo quando está difícil. Lance a semente em todas as terras. Uma semente há de germinar e talvez a mais improvável. A que menos promete. Não dê ouvidos àquele que diz que não vai acontecer porque a terra é árida, você é incapaz, o povo nunca muda, o problema é grande demais, o sol é forte e o vento está chegando. Lance a semente.
Guarde seu coração enquanto anda e chora. Não perca a alegria de viver e caminhar, nem a mansidão, nem a oração, ou o humor, ou o amor. Não deixe de semear mesmo quando está difícil. Lance a semente em todas as terras. Uma semente há de germinar e talvez a mais improvável. A que menos promete. Não dê ouvidos àquele que diz que não vai acontecer porque a terra é árida, você é incapaz, o povo nunca muda, o problema é grande demais, o sol é forte e o vento está chegando. Lance a semente.
Lançamos as sementes que o
Senhor nos deu e quase sempre há um preço alto a pagar, por isso choramos
enquanto semeamos. Tenho observado os semeadores. Uma enfermeira brasileira
atendeu 221 pessoas em um só dia na África sob um calor de 42 graus durante 17
horas ininterruptas. Era uma epidemia que chegava e os próximos dias seriam
mais difíceis. No Marrocos, um missionário Britânico, para trabalhar com os
moradores do lixo, passou também a viver no lixo, durante anos e anos. Um jovem
Ganense viajou todo seu país alertando sobre a AIDS, de bicicleta e só, com um
sorriso nos lábios. Era ele mesmo portador do HIV. Um pregador de rua, falando
em uma Praça em Manaus, incansável durante horas em uma segunda-feira à tarde.
Gritava e dizia: hoje é meu dia de folga, estou aqui e não em casa, porque
vocês são importantes para Deus. As sementes são diferentes. Para lançá-las é
preciso chorar, pois frequentemente há um preço a pagar. Um pagou com o suor,
outro com a abnegação, ainda outro dedicou seu tempo e o último entregava seu
único dia de folga. Pague o preço, lance a semente e sirva a Jesus.
Abrace o que também anda e
chora que está ao seu lado. Ele talvez se sinta só e pense que é o único que
chora enquanto caminha. Andar e chorar são cumprir a missão. É também um grande
privilégio. Um dia você voltará... mas talvez não seja hoje. Se você pensou em
desistir da sua caminhada e o coração, abatido, não encontra mais prazer em
semear, olhe para o alto e faça um compromisso com seu Deus: mesmo chorando,
andarei um pouco mais! Sim, haverá o dia de voltar... mas ainda não chegou. Na
força do Senhor continue a caminhar... e chorar... e semear... e sorrir, porque
estamos aqui, na lavoura do Pai. Não há lugar melhor.
Trecho do livro: Teologia Bíblica do Plantio de
Igrejas.
Editora Instituto Antropos, 1ª edição - 2011.